Antes de iniciar a leitura desta pequena homenagem a uma biografia gigantesca, peço, humildemente, paciência para o "textão", é que 80 anos de lutas e glórias não tem como resumir em poucas linhas, Dona Pequenita merece um livro, agora, dispa seus olhos e ouvidos das mesquinhez habitual e racismo estrutural, por fim, abra seu coração para acolher 80 anos de história em curso sendo contada em tempo real, história de quem resistiu e resiste até hoje diante da maior injustiça com Pilão Velho, a história de uma mãe de 12 filhos, de uma mulher que muitas vezes foi incompreendida e julgada por amar e entrelaçar sua existência a sua terra Natal mesmo esvaída em destroços e ruínas, uma mulher que entra para a história vivendo a própria história às margens do Gigante Velho Chico, quem vos escreve não vai esperar o final de uma vida para homenagear 80 anos de brilho eterno de uma mulher honrosa que entrou em cena neste mundo para construir uma biografia digna de personalidade gigantesca como tantas mulheres anônimas e renomadas que viveram dias de lutas e glórias nesse país marcado pelo patriarcado, mulheres como Dandara dos Palmares que lutou contra a escravidão de Palmares, Anastácia Tereza de Benguela líder quilombola de Quarterê, Luiza Mahín que participou do levante na Revolta dos Malês, Maria Felipa de Oliveira líder na Ilha de Itaparica, Bahia, que aprendeu a jogar capoeira para se defender e libertar seus descendentes e avós, se dúvida das minhas humildes palavras, visite o acervo do Museu da Pessoa, ou pesquise sobre Dona Pequenita nas grades de programação de TV Globo, Globoplay e Globonews, quem sou eu para contrariar a renomada Jornalista Nadia Bochi que enfatizou "Pequenita ficou conhecida como a última e única moradora da extinta Pilão Arcado, uma pequena cidade que antes da sua extinção tinha cerca de 10 mil habitantes. Ela resistiu à mudança de toda vizinhança, que refez suas vidas em uma nova cidade: a Nova Pilão. Ela assistiu a retirada dos santos da igreja, o esvaziamento das casas e a vida se esvaindo do lugar".

Dona Pequenita lutou para proteger seus sentimentos, lutou para resguardar a memória e todos os sentimentos remanescentes de uma comunidade inteira, levaram os objetos de casas e igrejas, mas a alma dequele lugar permaneceu intacta para Dona Pequinita, protegeu com unhas e dentes as suas escolhas, lutou contra um projeto cruel que tentou apagar abruptamente a história de milhares de famílias, um projeto que tentou, literalmente, afogar no fundo do Rio São Francisco as memórias e sentimentos de uma cidade, mas o Velho Chico é justo, velho Chico é todo sentimento, recusou, junto com Dona Pequenita, sufocar as memórias e sentimentos de crianças, adultos e idosos, Velho Chico e Dona Pequenita recusaram-se com veemência um projeto ousado, mas cruel aos olhos de muitos, projeto que tentou afogar sentimentos em troca de dinheiro, Dona Pequenita, inspirada pelo Velho Chico é guiada por Deus, é arquivo vivo que resistiu contra o projeto de remoção de moradores para novas cidades ou as chamadas agrovilas da Serra do Ramalho, numa luta solitária, decidiu voltar e fixar seu coração em Pilão Arcado Velho, lutando contra um erro socioambiental produzido por interesses financeiros e políticos, encabeçado pela CHESF (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), que indenizou todas as famílias com dinheiro, dinheiro que não comprou a resistência de Dona Pequenita, dinheiro que não seduziu seus sentimentos, sentimentos esses, que não se sujeitara a migalhas, sua memória era impagável, o elo entre ela e seu habitar natural foi mais forte que as falácias de um prometido progresso de uma nova cidade, a sabedoria de Dona Pequenita não foi seduzida pelos ternos de empresários milionários e políticos de uma época de atrocidades veladas, tenho certeza que as memórias de Dona Pequenita se confundem entre sensações agridoces entre realidade e lapsos de vivências passadas, é um apego descomunal, uma mistura de sentimentos entre passado e presente, entre realidade e sonhos, do que era e está sendo, uma mistura de mundos e sensações.

Dona Pequenita é Pilão Velho, Pilão Velho é Velho Chico, não se distinguem, se misturam entre sentimentos, resistência e devoção, todos são filhos inspirados e protegidos por Deus.

Entre suas plantações e lembranças, completa 80 anos entre a nova Pilão e o Velho, mas seu coração permanece lá, no lugar que foi abandonado por muitos, com todas as suas lembranças e vivências atuais resistiu e vive num mundo paralelo à modernidade, a memória de Dona Pequenita está sacramentada em Pilão Velho, Dona Pequenita é o próprio Pilão Velho, se existe um paraíso para os amantes de Pilão Arcado-BA, esse lugar se chama memórias de Pilão Velho, esse lugar está preservado e ainda pulsa em chamas no coração de Dona Pequenita, para muitos, o que são apenas fragmentadas lembranças, para Dona Pequenita ainda pulsa, é VIDA.

Uma mulher que aos 8 anos de idade sempre trabalhou na roça, plantou de tudo, essa mulher guerreira jamais iria se dobrar aos barões e coronéis da época com todas as suas ambições, mulher de fibra não se dobra, mãe que teve a capacidade de gerar 12 filhos não se entrega, luta até o fim para sustentar as suas crenças e sentimentos.

Pequenita nunca reivindicou espaço de glória, sabe por quê?

Simplesmente porque grandes personalidades não precisam impor ou exigir espaços, os verdadeiros heróis constroem suas biografias sem imposições, no silêncio da luta, com humildade e altivez, algo que já é o suficiente para colocá-la entre as maiores personalidades da Bahia, não sou eu, é a história que diz, 80 anos de Resistência, luta e Glória, um brinde a filha de João Gualberto Dias e Ana Francisca Dias, que nasceu no dia 12 de outubro de 1941, em Pilão Arcado Velho, Dona Pequenita, personalidade impar, nascida nessa terra protegida por velho Chico, abençoada por Deus e muito bem vivida por Dona Pequenita.

Um brinde e vida longa DONA PEQUENITA.

A-LIGA DE PILÃO

Se quiser conhecer mais Dona Pequenita, segue os links: Mais Você | Pilão Arcado: acompanhe a viagem de Nadia Bochi pelo sertão da Bahia Assista online | Globoplay

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